segunda-feira, 12 de maio de 2008

Areia Preta e Cachecol

Domingo, dizem, é dia de praia. Então resolvemos seguir a tradição.

Tínhamos acabado de visitar a vinícola Família Bisquertt lá pela 1 da tarde e, como não tínhamos mais nada agendado para o domingo, resolvemos visitar o Pacífico.

Suzuki Alto na estrada rumo à Pichilemu, cerca de 80 km de onde estávamos. A viagem demorou aproximadamente uma hora - pelo que disse nosso piloto Bob, já que, após algumas taças de vinho na vinícola, capotei de sono e só acordei em Pichilemu.

Chegando na cidade resolvemos parar para comer e aproveitamos para nos informarmos da localização das praias. Disseram-nos: "Ali em frente tem uma de 7 km de extensão e, 7 km para lá, há a outra, dos surfistas".

Fomos às duas.

Seguimos em frente e chegamos, rapidamente, à primeira praia. Imensa, de onde estávamos só conseguíamos ver uma parte dela. O frio era absurdo, por volta de 5 graus (acreditamos nós), além do vento, que passava uma sensação térmica ainda mais gélida. Nosso visual era um tanto incomum para a concepção brasileira de praia: jaquetas pesadas e cachecol (a imagem abaixo ilustra bem a friaca!).

Descemos um pequeno barranco para chegar à areia, outro caso à parte da praia em Pichilemu. Ela extremamente fofa e de coloração muito escura.

Apesar do frio, colocamos nossas mãos na água, afinal, precisávamos tocar no Pacífico. A mão molhada doeu de tão gelada. E, para nossa surpresa, logo em seguida, passou um surfista trajando uma roupa completa de neopreme indo em direção ao mar. Achamos que deveria ser algum louco, surfista fanático, uma figura perdida afim de aproveitar um mar só dele. Depois vimos que havia muitos como ele por lá.


Em seguida fomos atrás da outra praia, a dos surfistas, como nos havia indicado a mulher do restaurante. Não tínhamos muitas indicações a não ser de que fica há uns 7 kms ao sul. Alto na estrada e para lá fomos.

Não viamos muita coisa na estrada, até que uma placa indicando "Punta de Lobos" apareceu. Para nossa sorte a seguimos.

Punta de Lobos é como um canyon, com o mar embaixo. A vista é maravilhosa, lá do alto é possível observar uma extensa vista do mar, do relevo local e do resto das praias. O pôr-do-sol de lá deve ser fantástico, porém, no dia de nossa visita não foi possível presenciá-lo, devido à neblina que ao se juntar com o mar, tornava difícil a distinção do que era céu e do que era água. Porém, mesmo com esse tempo, a beleza do lugar era única.


Lá encontramos mais surfistas na água. A razão era lógica: as ondas de Punta de Lobos, como descobrimos no local, são famosas ao redor do mundo, principalmente no inverno. Por isso amantes do surf de diversas localidades do planeta viajam para a cidade, apesar do frio e do difícil caminho até o mar, para aproveitar algumas das melhores ondas do mundo.


Quando a noite se desenhava deixamos Pichilemu e voltamos à Santa Cruz.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Tradicional Família Bisquertt

Chegando à vinícola da Família Bisquertt era notável a diferença com a Casa Lapostolle. Bisquertt preserva a história de sua família num ambiente muito mais tradicional e rústico. Há muitos lustres antigos, salas com móveis dos séculos 17 e 18, além de muitas fotos e quadros dos antepassados. Até mesmo uma coleção de carros antigos foi possível observarmos durante nosso tour.




Nossa guia era a bem humorada Lorena, que nos mostrou desde as áreas de produção e armazenamento do vinho da vinícola até essas salas que guardam a história da família na França e no Valle. Como sempre, uma grande sala climatizada para o guardar os vinhos reserva, gran reserva e premium da vinícola Bisquertt. Tudo guardado em barricas de carvalho francês e americano.





Terminado o tour, passamos à sala de degustações para provarmos dois vinhos reserva da bodega. Eram os varietais Carmenére e Gewürztaminer, esta uma uva de origem alemã, como não deve ser difícil notar. Os dois vinhos são excelentes e foram degustados com um delicioso queijo amanteigado da região, e também com castanhas e nozes.

E como o papo parecia ir muito longe com a guia Lorena, ainda mais quando soubemos que ela falava inglês, o que facilitou muito a comunicação, ela resolveu nos oferecer de quebra um vinho doce da mesma uva alemã, do tipo Late Haverst. Inesplicável a primeira sensação. Você espera algo mais seco, e derepente, um sabor doce invade e toma conta de toda a sua boca. Algo inesperado, porém de ótima qualidade.

Lorena nos disse que o vinho em sua família é algo fundamental. Seu pai trabalha na vinícola há mais de quinze anos e ela trabalha em cinco vinícolas, além de estudar sobre o tema, quando acha tempo para isso. Segundo ela, o vinho é essencial para a sociedade do Colchagua, visto que muitas pessoas trabalham em vinícolas, e outra tantas são beneficiadas com as atividades geradas pelo seu sucesso na região, como o turismo por exemplo.

Por último vale ressaltar a beleza do loca. Como ocorre em praticamente todas as viñas da região, são muito bem cuidadas. A Família Bisquertt tem um lindo jardim interno, bem como uma bela entrada. A beleza é algo que nunca passa desapercebido por aqui. Sorte a nossa poder observar belas paisagens diariamente.

Pelada Andina

Visitamos a Casa Lapostolle, sossegamos na Casa Parrón, almoçamos uma bisteca mais-ou-menos e voltamos ao albergue. De pijamas às 4 da tarde, a ciesta era o próximo passo, até que uma visita inesperada apareceu em nosso albergue: era Luis, o frentista do posto, nos convidando para uma partida de futebol.


E há como negar uma partida de futebol no Chile? Tiramos nossos pijamas, improvisamos alguma vestimenta e estavamos prontos para a partida.


Luis nos levou em seu carro até a cancha, que ficava a aproximadamente dez minutos de onde estavamos. O campo era de terra batida, sem nenhum sinal aparente de que já houvera grama naquele lugar e ficava rodeado por uma paisagem formada de montanhas por todos os lados.





Pouco a pouco os amigos de Luis foram chegando até que eram treze ou catorze pessoas dispostas a jogar. Brasileiros, Luis e mais dois para um lado e o resto para o outro.


Bola no centro e o jogo começa. Estou na defesa e quando percebo o goleiro está posicionado ao meu lado. E não que eu estivesse perto do gol, estava onde seria a intermediária. Não entendi muito, nem comentei também e o jogo seguiu.


A partida tinha um nível técnico baixíssimo, ninguém trocava passes, principalmente por causa do campo, era muito difícil de dominar a bola e ninguém guardava posições (tenha o goleiro como exemplo!).


Acostumados com as particularidades o jogo continuou num clima amistoso e descontraido. Aqui, pelo menos na experiência que tivemos, as partidas são encaradas com muito mais descontração, sem reclamações ou cobranças, o intuito da partida de futebol é divertimento e não competição.


A partida acabou quando o sol se pôs. Ao final do jogo, como em toda reunião de homens, brasileiros e chilenos conversaram sobre palavrões, mulheres, futebol e bebidas, comentando as diferenças e semelhanças desses temas em cada país.


Após esse bate-papo fomos embora e Luis nos deixou em nosso albergue.




Ah, não que seja de muita importância, mas o futebol brasileiro, como sempre, se sobressaiu.


Gustavo Mesa

Santa Cruz, Chile

Sossego Na Minha Casa

Após visitar a Casa Lapostolle iamos voltando para o albergue quando uma curiosa placa nos chamou atenção: Casa Parrón à esquerda. Se fosse a Casa Rodriguez, Martinez ou Mendez, passariamos direto, mas Parrón, meu sobrenome, precisava aproveitar a chance de um possível encontro familiar. Então rumo à Casa Parrón seguimos.




A Casa Parrón era uma simples casinha contruída no meio da plantação de uvas, com um pequeno terraço ao seu lado, e bancos e mesas, situados abaixo de parreiras (parrón em espanhol, como aqui descobri), que serviam como uma espécie de teto natural.


Não se ouvia sequer um barulho, além do canto dos pássaros e por lá ninguém passava.


A vista de qualquer um dos lugares da casa era estonteante.


Não me recordo de ter visitado lugar mais relaxante.


Espero um dia que a Casa Parrón seja realmente minha casa.








Gustavo PARRÓN Mesa

Santa Cruz, Chile

terça-feira, 6 de maio de 2008

Visita à Casa Lapostolle

Nossa primeira vinícola visitada foi a Casa Lapostolle. Saímos com pressa do albergue e acabamos indo para o lugar errado o que causou um atraso em nossa chegada. Este não deixou de ser notado pelo nosso guia dentro da bodega, o francês Denis Arnault.

Denis mostrou ser um grande conhecedor de todos os processos necessários para transformar uma simples fruta em uma bebida fabulosa. Primeiro conversamos acerca da história da vinícola e da instalação da família francesa Marnier Lapostolle no Valle do Colchagua até agora. São quase 400 hectares de terra cultivada. Porém a que nós visitamos se chama Clos Apalta, e é a parte mais moderna e sofisticada da marca. A começar pela arquitetura fantástica da bodega, que junto às plantações locais formam uma paisagem magnífica.




Se você quiser conhecer esse projeto mais profundamente consulte http://www.closapalta.cl/winery_architecture.php

A construção moderna da bodega não foi escolhida simplesmente por uma razão estilística. Ao contrário, ela favorece muito uma produção mais natural do vinho. Aqui não são necessárias máquinas para o transporte das uvas e seu suco. O intuito do projeto foi utilizar somente a gravidade para fazer com que as uvas caiam de um recipiente para o outro. A cada etapa do processo as frutas caem sem que se alterem as suas propriedades.

Esse processo começa com a colheita das uvas que são trazidas posteriormente para o primeiro andar onde são selecionadas manualmente por algumas mulheres. Depois são transportadas até grandes tonéis. Nestes grandes tonéis, (com capacidade de 7.500 litros) ocorriam os processos de fermentação e maturação da uva.

Na última parte da visista Denis nos apresenta os vinhos que serão degustados. Entre eles está o vinho Clos Apalta, safra de 2005. Um espetáculo. Um vinho assemblage com as cepas Carmenére, Petit Verdot, Merlot e Cabernet Sauvignon. É um vinho muito especial, apontado como um dos melhores do mundo (um dos poucos a conseguir a incrível marca de 96 pontos na mais famosa e respeitada revista de vinhos do mundo, a Wine Spectator).

Uma particularidade do Clos Apalta é que não há uma quantidade fixa para a sua produção. O número de garrafas do vinho comercializadas varia de acordo com a quantidade de uvas que alcançam um nível adequado de excelência. Tanto é verdade que não houve produção do vinho no ano de 1998, em que a safra foi muito prejudicada por fenômenos climáticos.

A visão que se tem da vinícola é algo abusrdamente fascinante como podem ver. É algo que nos fez permanecer por mais de uma hora parados, somente admirando a beleza do local. Creio que também poderão sentir algo parecido ao verem as fotos que tramos da vinícola Casa Lapostolle.



Giuliano Bortolleto e Gustavo Mesa

Santa Cruz, Chile

"No, no, no" A Noite Inteira

Chegamos em Santa Cruz pela noite. Nos instalamos em nosso albergue (que está mais para uma pousada, mesmo) e fomos desbravar a sexta-feira local.

Vagamos em busca de entretenimento, até que paramos num posto, à procura de informações. Lá conversamos com Luis, um frentista que lá trabalhava, ele nos indicou o caminho e facilmente as encontramos as duas casas noturas da cidade.

Chegamos cedo e a boate ainda estava vazia. Resolvemos voltar ao posto para tomar uma cerveja e esperar até a balada encher. Eram 11:30.

No posto, com cerveja em mãos (Paulaner, Corona, Budweiser - aqui custando por volta de R$ 3,20) ficamos conversando com Luis (ótima pessoa por sinal, nosso contato não terminou por aí), perguntando-lhe sobre questões cotidianas da cidade, quando de súbito fomos surpreendidos pelos carabineros chilenos.

Nosso primeiro contato com a polícia local não foi lá dos mais amistosos - dica para quem nunca foi ao Chile como nós: não beba em locais públicos, aqui isso é proibido. Quando os informamos que não eramos chilenos e sim do Brasil, com ar de deboche eles nos responderam: "Aqui não é carnaval, não, é o Chile". Os carabineiros anotaram os números de nossas identidadades e se foram.

Passado o incidente e mais algum tempo para nos recompormos do susto, já era hora da balada.

Pagamos a bagatela de 2.000 pesos (aprox. R$ 8) para entrar na inconfundível balada "Iguana". Balada? Na verdade a fabulosa "Iguana" mais parecia uma garagem tapada pela frente por uma grande tábua de maderite.

Quanto à iluminação, razoável. Quanto ao som, aceitável - um reggaeton até que dançante. Quanto às chicas... "Solamente no, no, no!"

Tomamos vários foras? Não.

Nosso papo não convenceu? Não diria isso...

Ao abordar qualquer garota da balada éramos prontamente rechaçados, com a negativa que leva o título desse post. E não é que fomos muito diretos, incisivos, tampouco mal-educados ou deselegantes. Elas simplesmente não queriam papo. Nenhuma delas queria. Nem mesmo para nos passar informação. Durante toda a noite não conseguimos descobrir sequer o nome de alguma das garotas da balada.

Nem na volta para o hostal conseguimos tirar algo além do "no no no".

É rapaz, Santa Cruz exige muita raça!



Gustavo Mesa e Giuliano Bortolleto

Santa Cruz, Chile

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A grande jornada de Santiago a Santa Cruz

Depois de alguns contratempos, conseguimos realizar nossa viagem de Santiago até Santa Cruz, onde estão localizadas as melhores vinhas do Chile. A capital do Vale do Colchagua é San Fernando, mas o centro turístico da Rota do Vinho (Ruta del Vino) é Santa Cruz. Tenho que ressaltar que a estrada que percorremos (Panamericana Sur) é excelente. Asfalto perfeito, sem radares, sem polícia, e pedágio barato.

Mas não quero falar agora da estrada, da viagem, ou das viñas que vimos no caminho. Quero falar do magnífico meio de transporte que tivemos o prazer de utilizar. Alugar um carro é uma coisa, alugar um Suzuki Alto, é completamente diferente.

Tecnologia japonesa, espaço interno, insulfilm multicolorido. O carro é uma loucura.

Mesa: Meu, essa caranga é insana. Vamos pegar muitas chicas por acá. Olha esse motor. Olha essa potência.
Giu: Tô sabendo.

Estes foram as primeiras impressões do carro que a loja de alguel nos fez o grandissíssimo favor de nos conceder um desconto. (Me parecia que não entrava ninguém há pelo menos uma semana)

E olha que a caranga deu mais de 140 na estrada. Maravilhoso. Estupendo. Vou comprar uns 3 e distribuir para os amigos quando voltar ao Brasil.

Mas bem, a viagem foi maravilhosa. Uma bela vista dos Andes. A estrada ou acompanha as montanhas, ou simplestemente as corta. Uma cena para se guardar na memória para sempre. Algo inesquecível. No pé das montanhas têm-se um clima completamente desértico, com vegetação rasteira e quase nenhuma árvore. Enquanto no topo, um pico forrado de neve. Árvores coníferas e Palmeiras se misturam na paisagem. O clima daqui me parece que é único. Talvez por isso o Vale do Colchagua tem sido escolhido como um dos melhores locais para a produção vitivinicola.


Só para comentar. Santa Cruz é uma cidade muito pequena. Nos próximos post diremos como é interiorana e provinciana. Mas me parece que não será apenas o Serginho que terá problemar "con las Chicas".